👟 Como Errar Mais

O impossível é a única coisa que vale a pena.

MP;RA

(versão brasileira do TL;DR, too long didn’t read, Mó Preguiça, Resume Aí)

  • Quando erramos, aprendemos muito mais.

  • Erros, fracassos, riscos são sempre acompanhadas de um significado negativo, mas mudar isso é uma questão de perspectiva.

  • Quem não tenta não erra e quem não erra não faz nada.

  • Deixe sua curiosidade livre, você pode se surpreender com a quantidade de interesses diferentes que nem sabia!

A vida sem nenhum risco é chata demais.

Se tudo na vida fosse fácil, qual ia ser a graça de estar aqui?

Only the impossible is worth doing.

O impossível é a única coisa que vale a pena.

Akong Rinpoche, monge tibetano.

Que engraçado né, parece um comercial da Nike, mas é a frase de um monge…

Para ser diferente e fazer qualquer projeto com impacto é necessário tomar riscos e, por sua vez, tomar riscos significa errar, fracassar e cair várias vezes.

Erro, fracasso, risco, todas essas palavras geralmente são usadas de maneira negativa, mas elas são parte essencial da nossa experiência.

Quando erramos, aprendemos muito mais.

Lembra daquela prova que você foi mal e quase reprovou? Ou daquele projeto que você fez alguma cagada e custou caro?

Todo mundo já passou por alguma situação assim e são essas experiências que nos fazem aprender de verdade. Quando um erro custa caro, aquilo fica na cabeça e é muito difícil acontecer de novo.

E mesmo assim, se o erro faz parte de um processo de aprendizagem, por que a gente continua com medo dessa porra?

A cultura das empresas de não cometer erros e sempre procurar culpado para os problemas não cai bem na minha cabeça e está errada sim.

Esse excesso de conservadorismo e esse medo de errar é o que faz multinacionais saírem do mercado e é por causa do contrário que empresas do “cu do mundo” fazem um sucesso gigantesco.

Um dia de neve no centro de Estocolmo na Suécia

De acordo com o Google, a população da Suécia em 2020 era de cerca de 10 milhões de pessoas, enquanto a de São Paulo era de cerca de 12 milhões.

Esse país que neva uma média de 5 meses por ano, com uma temperatura média entre -5º a 22º, é o lar de empresas pequenas como: Electrolux, Ericsson, H&M, IKEA, Spotify, Volvo e Scania.

A Suécia passou a competir com gigantes e colocou empresas no Fortune 500. Quem diria que esse país 🤏 ia conseguir fazer isso?

Será que os suecos fazem que nem o Pernalonga no Space Jam e tem algum segredo? “Swedish Secret Stuff“

Acredito que a cultura tem um papel grande nisso e se a cultura brasileira valoriza gente conformada, tá na hora de mudar nossa perspectiva para fazer diferente!

Ao invés de falar um monte de bla bla bla teórico, me deparei com a história do Sahil Lavingia e ela pode te ajudar a ver seus projetos com outros olhos.

Sahil Lavingia do Gumroad

O Gumroad é uma plataforma de venda de produtos digitais, ele é tipo um Hotmart gringo.

O fundador da plataforma, Sahil Lavingia, foi o funcionário número 2 do Pinterest, responsável por criar a versão para iPhone e decidiu sair da empresa para fundar o Gumroad com o sonho de criar um unicórnio,

Assim que testou sua tese de negócio, levantou US$ 8 milhões em investimentos de venture capital e achou que estava no caminho para ser o criador de uma empresa de 1 bilhão de dólares.

Depois de queimar o dinheiro do investimento, ele precisou demitir 3/4 da empresa, incluindo alguns amigos e uma reestruturação foi necessária.

A empresa ainda estava operacional, mas a sensação era de fracasso.

No meio do Vale do Silício ele não se sentia bem com aquele fracasso, passou a procurar outros hobbies e tentou se tornar um escritor de ficção, uma vez que não achava que tinha conseguido sucesso no mundo das startups.

Quando ele se mudou para Utah, um estado bem menor dos EUA, percebeu que lá o sucesso era visto de maneira bem diferente.

Ao contrário de São Francisco, que o sucesso era fazer muito dinheiro, em Utah o sucesso era estar casado e engajado na comunidade da igreja.

Então por que o Gumroad não era o suficiente para ele? Afinal, era um negócio sustentável que um grupo de clientes amava, o que mais ele podia desejar?

Aquele sonho de construir um unicórnio acabou mudando e ele percebeu que o sonho na verdade era se sentir realizado com a empresa.

Milhares de criadores já estavam usando o Gumroad para construirem seus negócios, pessoas reais estavam pagando seus aluguéis, pagando a faculdade dos filhos ou simplesmente comprando alguns cafés extras vendendo seus produtos dentro da plataforma

Com o passar do tempo o Sahil entendeu que o problema não era a empresa, o problema era a expectativa dele, estava tão focado em construir um unicórnio que nem percebeu que o negócio dele era sustentável e estava permitindo que milhares de criadores vendessem seus produtos.

O Gumroad pode ter sido um investimento ruim para algumas empresas de venture capital, mas o produto era sensacional para os clientes.

Na verdade, ele construiu uma empresa de sucesso, pode não ser uma notícia para uma capa de revista, mas o negócio criou oportunidades reais, mudanças e empodeirou criadores para vender seus produtos online.

Em 2019 o Sahil compartilhou essa experiência em um artigo “Refletindo sobre meu fracasso de construir um negócio de um bilhão de dólares” (tá em inglês se você quiser ler o artigo completo).

A partir desse artigo, teve a chance de conversas com vários empreendedores e percebeu que grande parte deles preferia construir um negócio sustentável como o Gumroad ao invés de perseguir o status de unicórnio.

A cultura que estamos inseridos dá muito valor e destaque para negócios bem sucedidos que não param de crescer, mas o lado negativo é que podemos ficar com esse modelo na cabeça achando que é o único tipo de negócio que vale a pena construir.

Para muitas empresas, levantar investimento é um ótimo caminho, mas para grande parte das startups de estágio inicial, elas acabam levantando investimentos porque não conseguiram crescer de maneira sustentável.

E como resultado, acabam presas nessa busca incessante pelo crescimento, por pura pressão dos investidores que do lado deles querem investir em negócios lucrativos de sucesso.

Quando o crescimento infinito é o objetivo mais importante, o caminho geralmente é ditado por terceiros e não pela própria empresa.

Você quer mesmo construir um negócio e perder a autonomia dele?

Não sei você, mas quero estar no controle do meu negócio, por isso o foco é criar algo sustentável.

Qual é o tipo de empresa você realmente quer construir? Se você pudesse consertar alguma coisa no seu cantinho do mundo, o que você mudaria?

O Empreendedor Minimalista

A partir daquele artigo e de todas as conversas sobre o assunto, o Sahil decidiu escrever e lançar um livro chamado “the minimalist entrepreneur“.

A ideia é muito parecida com o Company of One que já comentei por aqui, mas tem outros pontos de vista para destacar.

Um empreendedor minimalista não significa se conformar com pouco e sim sobre criar um negócio sustentável que tenha flexibilidade para tomar os riscos necessários para agregar valor.

É um modo de pensar em construir um negócio com impacto e que nos faça mais ricos, saudáveis e felizes.

Ser um empreendedor ou ter um negócio significa possuir ferramentas para colocar suas ideia no mundo, existem habilidades comuns que habilitam que a gente consiga colocar algo no mundo e ainda fazer dinheiro com isso.

O fracasso de transformar o Gumroad em um unicórnio na verdade ensinou que crescimento a todo custo significou perder a essência do negócio, ele estava tão focado nesse meta que esqueceu que o produto estava impactando milhares de pessoas.

O livro é uma versão compacta da experiência dos 8 anos que o Sahil passou nessa jornada da empresa, com o objetivo de compartilhar tudo que ele aprendeu para nós não cometermos os mesmos erros.

Lendo o livro ou não, um insight que vale o spoiler é:

“Comece assim que puder. Comece antes de se sentir pronto. Comece agora!

Nós não aprendemos e depois começamos. Nós começamos e aprendemos no caminho”.

Sahil Lavingia

Como errar mais?

Tem um cara famoso por aí que era pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, mecânico, inventor, anatomista, poeta, músico e a lista de ocupações não acaba.

Definitivamente foi uma pessoa de muitos interesses e por esse mesmo motivo deixou centenas, se não milhares, de projetos inacabados.

Se as imagens não foram o suficiente para descobrir quem é, estou falando de ninguém menos que Leonardo Da Vinci, conhecido pela Mona Lisa, A Última Ceia e o Homem Vitruviano.

Se até a mente brilhante por trás de várias obras-primas deixou centenas de trabalhos abandonados, por que nós temos medo de errar mesmo?

Se não fossem por esses trabalhos abandonados a Mona Lisa talvez nem existiria.

Da Vinci era um polímata: Pessoa que tem conhecimento em muitas ciências; quem conhece ou estudou muitas ciências: Leonardo da Vinci é mais famoso polímata do nosso tempo. [Por Extensão] Pessoa que possui um vasto conhecimento em muitas áreas.

Lendo a biografia e vários outros artigos sobre a vida dele me deparei com os 7 princípios que podemos usar como um guia para qualquer projeto novo que fazemos:

1. Dimostrazióne | Demonstração

Comprometimento de testar conhecimento por meio da experiência.

2. Sensazione | Sensação

Refinamento contínuo das sensações, principalmente da visão, como meio de dar clareza para a experiência.

De acordo com Da Vinci a melhor maneira de praticar sensazione é pelos sentidos, principalmente a visão, que pode ser refinada através da observação.

3. Sfumàto | Gradação

Disposição para aceitar a ambiguidade, os paradoxos e a incerteza.

Parte essencial da característica da genialidade do Da Vinci era sua habilidade de lidar com o senso de mistério.

Sfumàto era a técnica utilizada para borrar as linhas, removendo a intensidade dos traços e dando um senso de profundidade para seus desenhos.

4. Arte/Scienza | Arte & Ciência

Desenvolvimento do equilíbrio entre arte, ciência, lógica e imaginação.

Por que arte e ciência precisam ser separadas? É comum pensarmos em cada disciplina separada, arte da ciência, engenharia de arquitetura, desenvolvimento de código de vendas e por aí vai…

5. Corporalità | Mente corpórea

Cultivação de ambidestria, aptidão e postura são importantes para o desenvolvimento das capacidades mentais.

Para manter sua mente no melhor estado, seu corpo também precisa estar em sua melhor forma.

6. Connessione | Conexão

Reconhecimento e apreciação da conexão de todas as coisas e fenômenos.

“Pensamento sistemático”, uma das fontes da criatividade de Da Vinci era a capacidade de formar e criar padrões por conexões e combinações de elementos diferentes.

Por meio de analogias ele conseguia conectar qualquer coisa com o corpo humano, suas obras são uma mistura de matemática, perspectiva, anatomia e muitas outras disciplinas.

E por fim, a última e mais importante:

7. Curiosità | Curiosidade

Precisamos de uma curiosidade insaciável pela vida.

“Mentes geniais tem uma característica em comum, sempre fazem perguntas ao longo de suas vida”

Walter Isaacson, autor da biografia “Leonardo Da Vinci“.

É a nossa curiosidade que nos motiva a procurar coisas novas, sem curiosidade ficamos estagnados.

Aqui sua curiosidade serve para absolutamente qualquer coisa, do mesmo jeito que Da Vinci tinha vários títulos diferentes, o que te impede de tentar coisas novas?

Os meus exemplos chegam a ser engraçados de tão aleatórios: já comprei alguns baralhos e aprendi a fazer mágica com cartas; comecei a ler depois de adulto e gostei muito de literatura japonesa (os livros do Haruki Murakami são uma bela recomendação para quem quer ler algo diferente); nunca fui a pessoa dos exercícios e comecei a correr na rua de manhã; sou viciado em café e gosto de experimentar cafés novos, entender sobre os grãos; a lista não acaba por aí, mas o ponto é que qualquer um desses interesses poderia ter passado de um hobbie para alguma outra ideia e por que não um negócio?

Se até meu hobbie por ler e escrever virou o Tripulantes, tenho certeza que você também consegue criar algo único!

"Vivemos em um mundo complexo e precisamos ser fortes para sobreviver durante o caos.

Virei escritor aos 30 anos e comecei a correr quando tinha 32 ou 33 anos.

Decidi correr todos os dias porque queria ver o que iria acontecer.

Acredito que a vida seja um tipo de laboratório em que podemos tentar qualquer coisa.“

Haruki Murakami em uma entrevista para o The New Yorker.

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